Textos
Luxo
Alba envelheceu linda
A alma vinha-lhe à frente
Os anos acrescentaram-lhe frescor
Agora, era uma mulher transparente
Notava-se o amor dentro
Há anos tratava de aparar-se
Desprendeu-se das bugigangas que lhe pesavam a vida
Encantou-se com tudo que via pelo destino
Tratou de apaziguar o fogo sem perder as vontades
Tratou de rir dos seus enganos
Chorou a cada pedido do coração
Alba entregou-se inteira aos dias
Alinhavou as horas, os minutos e os segundos
Por fim, deu-se conta de unir os retalhos todos
Assuntou com sua bela colcha a aquecer-lhe o corpo
E sorriu a sentir-se alegre
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Ê
Arte é oração
Um código síncrono com o universo
Elo sigiloso entre amor e juízo
Encontro profundo
Dança de palavras agradecidas
Pintura de pedidos desesperados
Canto de exaltação
Desenho de mundos imaginosos
Arte é profecia para bendizer a passagem
Agasalho para o frio
Remédio para dor
Aclaração
Altar
Oferenda
Emancipação
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Do Alto
No topo da montanha
Há dias de longas
águas, há dias de
calor
Firme está a casa,
singela morada de gentes
À posta, o mirrado
cão espera o farnel
Há vôos, e piados, e
pequenos sonhos
lançados sobre o
horizonte
Delicadas arnicas
douram a encosta
O cume da montanha é
celeste morada de
anjos
Há fumaça, vento e um
agradável silêncio
O verde se derrama
até o rio
Caminho de sorrisos e
assombrosas caveiras
Descida de
aprendizes, subida de
operários
No pico da montanha
Há mugido, lágrima e
um azul imenso
Da terra, enormes
esmeraldas se
encompridam
A montanha é segredo
É vértice,
triângulo… flecha
Circunstância
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Não
A vida sempre a dizer não
Rindo pelas costas
E eu, São Judas, em oração
Me diga… se tudo no mundo começou com um sim
Andarei eu olhando a vida de viés?
Os movimentos parecem sempre os mesmos e têm os tons
da corte
Do meu canto estofado lanço olhares longos e não nego
a indecência
Cá estou acima das enchentes, a salvo da miséria
Não posso desconsiderar as nuances perversas desse caldeirão
Há tantos atores felizes
Me coloquei fortemente na vida, abri minhas estruturas
Difícil é reparar no detalhe. Vivo e morro por ele
É fresta que parte a estrada, é peça que descortina o crime
É aresta que significa o homem
De lupa enxergo o morro a quilômetros do paraiso
A formiga a carregar o grão de cada dia
Os reis a colher da colher alheia
Sigo em oração São Tadeu
Não posso mudar, não posso negar
Não, não, não.
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Afortunada Santa
Santa Tereza fica suspensa entre
as esmeraldas convexas, que se espalham até o rio, à
direita, e à esquerda encontram o arroio.
Aqui o tempo silenciou as maquinas.
Emergente é o piado das aves, o farfalhar da
vegetação e o queixume do Taquari.
Há pressa de vida por estes lados
Há pressa de pausa para contemplação
Há pressa na camaradagem
Aqui eu corro para minha companhia
Cochicho pequenas vontades
Tricoto as mais belas intenções
Desconfio do sonho que tenho tido a teu lado, Santa
Tereza
A esperança é verde como tu
Considero as marcas do tempo nos teus casarios, me
forjam sorrisos
Admiro tua gente bondosa, me presenteia com
brandura
Não permita que te toquem bela Santa
Nem queira conhecer os desafios deste século
Fique com apito do trem
É o bastante
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Carreira
Tanto mais me aprofundo na vida, mais
distante dela eu fico
Filigranas e particularilades a desviar
o percurso
Retórica moral a engessar os passos
O fio de cabelo engomado a extrair horas
A filosofia.. ladra de experimentações
Os recortes de vida feitos quadro a
quadro
Tino tão amíude
Navegar rio detido pelos afluentes,
parece imprimir genialidade
Mas é trava da corrente
feito, à exceção, aos de rara
inteligencia
Deveria ter negligenciado à perfeição
Deveria ter sobrevoado as matas
Deveria ter deslizado pelas ruas
Deveria ter flutuado pelos becos
Confiar nas preces seria opção
Porém, ceguei
Minha fé pergunta, desconfia, faz sofrer
Castas e portinholas abertas
E todas as chaves perdidas
Apesar de pormenorizar a vida
Errei a vírgula a cada oração
Enquanto não houver ponto
Meu próximo estandarte trará a inscrição
aNARQUISTa
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Olho
Da vertente nasce o rio
Onde nasce há choro
Onde cresce há dor
Onde arrisca desloca
Possa eu beber o líquido da vida
Hidratar meus sonhos
Realizar o parto e seguir o curso
Farejar novos brejos
Andarilhar quilômetros
Sentir a vegetação da várzea
Que bons ventos me empurrem ao mar
De lá farei longa mirada
Cruzarei mares
Em mim, descortinarei um novo país
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Insolência
A vida emoldurada
O cabelo milimétrico
Não posso, eu não
Estou sempre em desalinho
Sou tropeço
Não compreendo meu começo
Tampouco sei onde termino
Sou fumaça sem contorno
Sou fruto de combustão
Sou poluente
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