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Eu danço

O mar dança. No vai e vem trança a areia, enquanto a lua abre clarão no breu.

Sagrada é a existência inundada pelo não-dito das águas, que em silêncio purifica a vida.

De leitosas pérolas o mar é bordado nas profundezas, como a alma que se espanta com um pequeno pássaro a piar no jardim. É preciso pretexto para a incerteza da vida. Também a crença e alguma ilusão. Nada é de fato se não cremos. Se não olhamos para o céu, de que servem as estrelas?

Os olhos carecem de ensino, de treino para avistar lonjuras. As mãos podem ofertar o coração. Se convertidas à liberdade tornam-se asas. Mantenho o ofício de ornar o espírito para sabotar a tristeza que me procura.

Danço para chamar a felicidade. Danço o corpo, danço a mão sobre o papel, como um rito de passagem. Ando o tempo todo a dançar.

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