Textos

Vida que se corta em brechas para permear o amor. Recônditos escuros por onde a água escoa diluindo o amor. Não sabemos de onde vem, não sabemos o que é e para onde nos leva o amor. Amamos na escuridão.
Puro ocultismo, irresponsabilidade e salvação.

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POP

Não pare, não morra
Assopre a solidão
Dê asas aos sentidos
É do homem chorar e rir
Eu mesma desleixei da coragem
Quedei-me só
Apartada dos parques, do sol e das estrelas
É impossível viver de clássicos
Seja pop, seja sexy
As maçãs do rosto precisam de cor
Queime as mãos com as urtigas do mato
Perca a sombrinha e abrigue-se na imaginação
Seja contemporâneo
Viva pelo segundo que te cabe

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A felicidade é dona de si
Livre e mágica
Na quarta-feira entra por debaixo da porta disfarçada de camundongo
No sábado sai voando, feito borboleta, pela janela
Um dia agarro essa dona moça

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Prazo

Talvez eu precise de um jardim
Para aplacar esta compulsão criativa
Carpir a terra, jogar sementes, regar, podar
Deus me verá sob o sol cravando as unhas na terra
Serei uma alma simples e alegre a desenterrar minhocas e inço
Saberei de cor a geografia da alma
E no momento em que as flores brotarem
Estarei pronta para dizer não
Não quero mais
Bastam as flores no jardim

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O som do amanhecer
É janela desatada para a vida
Um novo remédio
Uma dose homeopática contra o tédio
Um salve do que ainda pode ser salvo
Um aviso, uma súplica
O som da manhã é benzedura para o dia
Dito de impermanência
Rito de passagem
Bem-aventurança do cotidiano
O som da manhã
É palavreado de pássaros
Sossego das máquinas
Expectativa do recomeço
Início vagaroso
Anúncio de nova rodada
Chance
Cheiro de mato úmido
Cheiro de café

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Traquejo

Aprenda tudo
Crescer é doloroso
Melhor recitar um poema
Memorizar a música predileta
Fazer o coração saltitar
Não esqueça de fazer anotações mentais
A vida não é original
Seja maestro, seja livre e justo
E não esqueça
Aprenda tudo
Tenha conversas profundas
Não toque apenas em sua parte jovem
Apalpe suas rugas
E não esqueça
Aprenda tudo

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Passantes

A vida vai às pressas a roer o tempo

A roer os sonhos e as imaginações

A roer os ossos e a carne

A vida vai amplificar os soluços

Vai roubar a audição ao acrescentar orelhas maiores

Vai roubar o cheiro ao acrescentar um nariz avolumado

A vida agrega apêndices para surrupiar utilidades

E aos poucos nos tornamos inúteis e dispensáveis

Por fim, a vida nos coloca em suspensão

A espera de esperar

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Eu danço

O mar dança. No vai e vem trança a areia, enquanto a lua abre clarão no breu.

Sagrada é a existência inundada pelo não-dito das águas, que em silêncio purifica a vida.

De leitosas pérolas o mar é bordado nas profundezas, como a alma que se espanta com um pequeno pássaro a piar no jardim. É preciso pretexto para a incerteza da vida. Também a crença e alguma ilusão. Nada é de fato se não cremos. Se não olhamos para o céu, de que servem as estrelas?

Os olhos carecem de ensino, de treino para avistar lonjuras. As mãos podem ofertar o coração. Se convertidas à liberdade tornam-se asas. Mantenho o ofício de ornar o espírito para sabotar a tristeza que me procura.

Danço para chamar a felicidade. Danço o corpo, danço a mão sobre o papel, como um rito de passagem. Ando o tempo todo a dançar.

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