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Carta para minha Mãe

A partir de ti me fiz inteira no mundo. Tarefa dura. Não fosse tu me alertares sobre a temperatura do sol, pensaria que tudo que ilumina só pode fazer bem. E mais, lembro de me sentir velha na infância. Sabias da firmeza que a vida exige. Lembro de cada prato de alface, espinafre, cenoura e livros que devorei. Te maldizia no travesseiro e sobre ele chorava o amargo destino de crescer. Hoje percebo teu real tamanho e me pergunto como tantos sobrevivem sem mãe. Tu me alertou sobre dias amargos, sobre dores não medicáveis. “O choro não é vergonha”, aprendi contigo. E ao andar pelas ruas desgastadas de solidariedade e de ternura, eu soluço a valer. Aprendi que não se atravessa o mar sobre as águas. É necessário afundar os pés. Tu me encorajou a esperar a onda. Tomei muita água. Me sinto hidratada, mãe. Hidratada de vida, de amor.
E para terminar, não temo o clichê.
Obrigada, com amor

Desirée

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